Porque não vou ao cinema
Nos últimos anos temos vindo a assistir a um gradual decréscimo do público de cinema. Após um período de crescimento desenfreado, com o aparecimento de muitas salas de cinema por esse País fora (principalmente, claro, em Lisboa), o público começou aos poucos a afastar-se das salas de cinema, que vão ficando cada vez mais vazias.
Os dados divulgados pelo ICAM não deixam dúvidas: nos primeiros oito meses deste ano as salas nacionais perderam 1,34 milhões de espectadores, face a igual período de 2004. São 5.515 pessoas por dia!!
Confesso que, de início, fiquei surpreendido com estes números. Mas depois tentei lembrar-me quando tinha sido a última vez que fui ao cinema... sabem a que conclusão cheguei? Não me lembro! Acho que só fui uma ou duas vezes este ano!
Tentei então perceber porque não vou ao cinema. Até é uma coisa de que gosto bastante. Lembro-me bem que nos tempos de estudante ía pelo menos uma vez por semana. Porquê que, ainda que insconscientemente, deixei de fazer uma coisa que gosto?
Será a crise económica, que últimamente serve de desculpa para tudo, principalmente para o tradicional pessimismo dos portugueses? Serão os preços dos bilhetes, que contrariando tudo o que aprendi sobre teoria económica, não param de subir, apesar da procura estar sempre a baixar? Será a qualidade dos filmes que deixa um bocadinho a desejar? Será porque actualmente se dá preferência a jovens modelos bem parecidos (mas com pouco talento e nenhuma formação), deixando actores consagrados e talentosos no desemprego?
Acho que é um pouco por tudo isto. Mas é, principalmente uma questão de comodismo e conforto. Apesar de todos os motivos que apresentei, continuo a gostar de cinema. E, felizmente, tenho dinheiro para ir ao cinema mais do que 1 ou 2 vezes por ano.
Simplesmente, não faço questão de ver um filme na semana da estreia. Não me importo de aguardar meia duzia de meses e fazê-lo sentado no meu sofá, com as pernas esticadas, sentindo o aconchego da minha lareira. Ver um filme, abraçado a uma pessoa especial, acompanhado por uma garrafa de um bom vinho é, incomparávelmente, mais agradável do que fazê-lo numa sala acompanhado por dezenas de pessoas, a comer pipocas e beber coca cola.
Assim concluo que, pelo menos a avaliar pelo meu caso, o grande problema da queda da afluência às sala de cinema é a concorrência do "home cinema". Hoje em dia os filmes são disponibilizados em DVD poucos meses após a sua estreia nos cinemas. E começa a ser generalizado o acesso a bons equipamentos de som e imagem.
E é muito mais confortável ver um filme nas condições de luminosidade e temperatura que preferimos, à hora que mais nos convém, acompanhados de quem desejamos, bem instalados, sem cabeças irrequietas à nossa frente, sem ter que suportar o transito, as filas da bilheteira, o ruido das pipocas....
Agora percebo porque não vou ao cinema! Será que esta reflexão ajuda a compreender os 1,34 milhões?