quinta-feira, setembro 01, 2005

Guerra nas estradas

Reconheço que é um assunto velho, já muito batido e debatido... mas continua a intrigar-me. O comportamento dos portugueses nas estradas é, no mínimo, incompreensível. Não percebo qual a necessidade de estarem sempre a buzinar por tudo e por nada, a barafustar, insultar, ameaçar, agredir... Não consigo perceber como é que pessoas perfeitamente normais, educadas, civilizadas e, até, simpáticas, quando se encontram dentro de um carro, com um volante nas mãos, se transformam em bichos anti-sociais, agressivos e selvagens.

Se houver por aí algum psicólogo, ou estudioso da natureza humana, por favor escreva algumas linhas que me ajudem a perceber melhor este fenómeno!

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Tiger (leia-se me português Tijer)
Se for pouco exigente no português e lhe servir um ex-namorado de uma psicóloga e curioso da natureza humana talvez isto ajude… ou não

Vamos começar pelo inicio…

“O primeiro automóvel chega a Portugal em 1895. É um veículo da marca Panhard & Levassor, importado de Paris pelo IV Conde de Avilez.
Na Alfândega de Lisboa, surge a dúvida sobre a taxa aduaneira a aplicar a tão estranho artefacto. Seria uma máquina agrícola ou uma locomobile (máquina movida a vapor)? Adopta-se esta última definição.
Na primeira viagem que realiza, entre Lisboa e S. Tiago do Cacém, este veículo é protagonista do primeiro acidente de viação em Portugal ao atropelar um burro.”
http://www.amtc.pt/museu/por.html

Depois de ler isto poderá concluir que em 110 anos os portugueses evoluíram muito pouco, enquanto a industria automóvel teve um crescimento exponencial.
Continuamos tal como antes sem perceber o que é um automóvel.
Nas estradas burros continuam a morrer e a matar. Embora estes últimos sejam falsamente brasonados.
È aqui que começa a diferença.
Os macacos mais espertos e mais aptos passaram de quatro a duas patas.
Os ex-macacos mais espertos e mais aptos passaram de bípedes a cavaleiros.
E destes a automobilistas foi uma aceleradela.
Em todos os povos deste planeta, sem excepção o meio de transporte marca a diferença. Desde o riquexó da Ásia ao trenó do Alasca, passando pelo escudo de Abracurcix, o objectivo é sempre o mesmo. Chegar mais longe mais rápido, com o mínimo esforço e em estilo.
Durante séculos isto (entre outras coisas) faz a diferença entre estratos sociais.
Hoje com a democratização do automóvel, esta diferença que ficou gravada no nosso imaginário alimenta a industria dos transportes e os cínicos cofres do erário publico.
Qual a lógia de pagar 20.000 contos por um carro quando um de 5.000 faz o mesmo dentro da legalidade?
O que torna um pacato subserviente manga de alpaca numa fera automobilística?
O que faz uma velhinha de cigarro na boca sentir-se quase feliz quando te obriga a uma travagem forçada.
Porque é que tu nem sempre respeitas as prioridades????
O exibicionismo mais a afirmações de um estatuto acima da média, a sensação de poder dentro do anonimato estimulando o ego e a auto-estima, o sentimento de impunidade mesmo que extemporâneo, a distracção, a pressão, o stress, o chefe, a seca, o banco, as gajas, o irs, o estacionamento, a creche do miúdo, o futebol, a renda, a puta da sogra, etc…
As desculpas que tu quiseres tem aqui espaço.
Agora em Portugal, a falta de uma cultura cívica é inegável.
Não se olha para o condutor do carro ao lado, como um companheiro de viagem …somos mais do género o que é que aquele palhaço quer!
Somos burros como o bem intencionado IV Conde de Avilez e temos o complexo de menoridade do dono do burro que foi atropelado.
Nas palavras de Daniel Sampaio O INFERNO SOMOS NÓS
E quem tem o dever de ajudar só atrapalha: Fazendo estradas por conveniência político-económicas com materiais de inferior qualidade, e tornando o ensino nas escolas, incluído as de condução numa negociata nacional.
Olham para o automobilista como uma vaca a ser ordenhada.
Como D. Carlos disse um dia a um embaixador estrangeiro…
“esta choldra é ingovernável”

Tiger disse...

Caríssimo anónimo,

Gostei do teu texto. Para além da interessante alusão ao episódio do 1º automóvel (já sei onde o MST se foi documentar), está interessante, elucidativo e bem humorado.

É, sem dúvida, um bom contributo!

Obrigado!